Evento que retorna Curitiba após dez anos traz produtos que chamam a atenção não só por não serem tão comuns, mas também por terem histórias de empreendedorismo envoltas em sua fabricação.
A Feira Sabores do Paraná, que acontece até as 20 horas deste domingo (01) no Museu Oscar Niemeyer, com entrada gratuita, coloca à disposição dos curitibanos dezenas de produtos oriundos da agroindústria familiar. Mas há alguns que chamam a atenção por não serem tão comuns e terem histórias de empreendedorismo envoltas em sua fabricação.
Em um dos estandes, o estudante Henrique Leite, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), câmpus de Laranjeiras do Sul (Centro-Sul), oferece sorvetes de sabores não tão usuais: guabiroba, uvaia, mamão-caipira, araçá, açaí juçara com banana, morango silvestre, mexirica e jerivá. No mesmo local estão sucos e geleias.
Segundo ele, a universidade tem desde 2016 um projeto de extensão rural, que trabalha com cerca de 30 famílias de assentados e agricultores rurais reunidos em cinco associações nos municípios de Goioxim, Laranjal, Laranjeiras do Sul, Palmital e Quedas do Iguaçu.
“Percebemos que eles tinham em seus quintais frutas nativas que historicamente são marginalizadas, deixadas à parte das cadeias produtivas e acabavam se perdendo”, disse Henrique. “Decidimos criar o projeto para incentivar e capacitar os agricultores para eles colherem e beneficiarem, e nós cuidaríamos da elaboração dos produtos finais e da comercialização”.
Acadêmicos de Agronomia, de Engenharia de Alimentos e de Nutrição ajudam na capacitação, nas receitas e na rotulagem. Os agricultores entregam as polpas, pelas quais são remunerados, e estão multiplicando mudas para ter escala comercial. A universidade fez parceria com uma microssorveteria que transforma no produto final. Além de usar a polpa para sucos e para a fabricação das geleias, dentro do próprio câmpus.
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Os estudantes ajudam também na comercialização em feiras e eventos gastronômicos, com o apoio do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná). Além de Henrique, estão em Curitiba os bolsistas Luis Fernando Petters, da Itaipu; e Dandara Brizola, da Fundação Araucária. O lucro está sendo investido em compra de equipamentos, marketing, visitas a feiras e na ampliação do mercado.
GOIABA – Próximo desse estande, a Destilaria G&R, de Carlópolis, no Norte-Pioneiro, oferece a aguardente de goiaba. Rosana Menegon Longo, seu marido Agostinho e o filho João Tomaso moram em uma chácara, onde há 15 anos produzem as apreciadas goiabas da região. “Decidimos fazer algo diferente, além de continuar vendendo as goiabas”, disse Rosana.
Eles ajudam a abastecer a Ceasa em Curitiba com essa fruta. Como Agostinho tem conhecimento em produção de bebida, pois seu pai veio da Itália e fazia vinho e queijo, a opção foi pela destilaria. Há dois anos conseguiram o registro e regularização da indústria no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
São cerca de 200 garrafinhas que saem todo mês, depois de um demorado processo de extração do açúcar e pousio nos alambiques, para serem mostradas e vendidas em feiras. A propriedade também já se tornou conhecida e está em roteiros turísticos da região.
COSMÉTICOS – A Madreselva, que produz cosméticos a partir de óleos essenciais e bioativos naturais, começou a nascer em 2005 na Fundação Tecnológica de Cascavel, no Oeste, onde o casal Almerinda e Carlos Chaves conseguiu acesso para pesquisas. “A ideia inicial era fazer óleos essenciais e bioativos naturais para oferecer às indústrias de cosméticos”, afirmou Almerinda.
No entanto, após três anos de incubadora, o mercado já não estava mais à procura desses produtos. “Um desafio estava lançado, tínhamos os estudos, tínhamos carinho pelas plantas e sabíamos que poderia proporcionar benefícios às pessoas”, reforçou. Por isso resolveram eles próprios criar os cosméticos, nascendo a Madreselva.
A entrada no mercado foi em 2013, tendo participado de várias feiras e exposições, inclusive da última Feira Sabores do Paraná, realizada em 2014 em Curitiba, com apoio do IDR-Paraná. “Temos muita gratidão porque essa divulgação proporcionou o mercado que temos até hoje”, disse Almerinda. Atualmente são 82 produtos no portfólio.
Parte das matérias-primas chega do Pará, fornecida por uma cooperativa que padroniza produtos amazônicos extraídos por ribeirinhos, como a copaíba, coco-babaçu e castanha do Brasil. Elas se juntam às mais comuns do Sul, com alecrim e marcela. “Promovemos o nosso aqui e ajudamos alguém que está bem longe”, afirma Almerinda.
DESIDRATAÇÃO – O casal Elisangela e Luiz Zaha, de Jandaia do Sul, no Vale do Ivaí, comercializa frutas desidratadas. A Lumi Vita foi pensada quando Miguel, o primeiro filho do casal, iria completar um ano, em 2022. “Queríamos algo diferente para a comemoração, que fosse docinho, mas mais saudável”, disse Elisangela. A sugestão veio de Maria Iamaguchi, mãe de Luiz.
As frutas desidratadas agradaram à primeira mordida e as encomendas começaram. Elisangela decidiu participar de cursos para aprofundar a técnica de produção e manipulação de cores e formatos, mas as participações em feiras já começaram a fazer parte da rotina, além de terem estabelecido uma loja em Maringá, no Noroeste.
Algumas das frutas são cultivadas no terreno de 2,5 alqueires que o casal possui e de onde tira hortifrútis in natura, ainda a principal fonte de renda, principalmente atendendo o hospital regional. Com o crescimento dos pedidos, houve a decisão de formalizar a indústria, para a qual tiveram auxílio dos técnicos do IDR-Paraná.
A Lumi Vita está completando um ano. “Ainda estamos lapidando”, salientou Luis. As frutas são todas selecionadas, produzidas por eles mesmos ou compradas de produtores locais, e eventuais resíduos vão para compostagem.
Fotos: Reproduções – Fonte: AEN